Vamos ter que nos reinventar - Por #Joaquim Marques
Primeiro resolver um problema gravíssimo de saúde publica e global. Saudar os verdadeiros heróis deste tempo – os profissionais de saúde. Manifestarmos a nossa gratidão pelo seu empenho, dedicação e pelo notável trabalho. Eles são os nossos “soldados que estão nas trincheiras” Obrigado!!
A seguir preparamo-nos para o ajustamento. Não sabemos a dimensão dessa correção. Todos estamos assustados, perplexos, apavorados até! Porque é devastador! Já tivemos várias crises. Já tivemos guerras. Mas nunca tínhamos visto o planeta a parar! É singular esta crise que nos faz parar involuntariamente. Que eclipsa a economia! Que interrompe a globalização(!). A economia parada, poderá ser uma tragédia maior. Sim, mas esta variante cabe-nos a todos inverter. Porque é atacável! A recessão é inevitável, a depressão não é.
Existe um debate sem vencedores. Porque no desconhecido. Qual a melhor estratégia? Tratar primeiro a doença e depois tratar a economia, ou tratar ao mesmo tempo da doença e da economia? Não sabemos. Mas cabe-nos fazer este o desafio das nossas vidas. E nas nossa vidas vamo-nos lembrar onde estávamos hoje e o que fizemos em prol deste enorme desafio.
Pensamos no futuro só vemos inquietações! Daí que o melhor é reduzir expectativas. Sermos realistas. Sermos otimistas na capacidade de resposta. E desde logo pensarmos na inevitabilidade de nos reinventarmos. Se nada fizermos de diferente, nada mais podemos esperara que o inevitável: um downgrade no nosso poder de compra. Isto não é só um ajustamento, pode ser o novo paradigma das nossa vidas. É mais duro vivermos pior quando já vivemos melhor. Quando as necessidades são latentes. Isto porque o poder de compra que tínhamos em Janeiro será o nosso maior desígnio depois de resolvida a crise sanitária. Vamos até chegar à conclusão que vivíamos bem e não sabíamos.
Temos que iniciar hoje essa trajetória. A inação hoje é o “delay” do futuro! O conformismo a fatura pesada, já amanhã. Nesta mesma trajetória temos que dar uma resposta a uma outra pergunta: Que mundo queremos a seguir á catástrofe? Um mundo mais solidário , ou um mundo reforçado de barreiras e muros entre os diversos Países? …haja Esperança.
Quais a soluções para esta crise ? primeiro temos que entender se a economia vai parar as próximas 3/4 semanas ou se paralisa os próximo 3/4 meses. Este timing fará uma grande diferença.
Existem três formas de atacarmos esta crise: Os modelo clássicos, Os modelos clássicos ajustáveis e extensíveis à globalidade e os modelos que temos que reinventar.
Em relação aos modelos clássicos, todos seremos Keynesianos nesta fase. Aqui temos boas notícia. Confirmou-se já uma reação generalizada e a tempo. E sem os erros cometidos em outras crises. Julgo positivas as políticas económicas através dos bancos centrais, como a reserva Federal Americana (FED) e o Banco Central Europeu (BCE). Políticas assertivas na compra de divida soberana e ativos com o intuito de esse mesmo dinheiro ficar disponível no mercado, e promover o contraciclo da economia. Os juros baixaram para valores historicamente baixos, e os títulos do tesouro idem (como refúgio ao risco).
Foi ainda surpreendente a intervenção da União Europeia, ao incentivar os estados a “gastem o mais que poderem”. Ou seja, pela primeira vez é abolida a rigidez orçamental, nomeadamente o défice acima dos 3%. Isto é atacar a crise, e bem! A questão vai ser a ressaca orçamental e o financiamento do défice, que nesta fase subvalorizamos. Aí não se devem cometer os mesmos erros de 2009, ou seja, não mergulhar a economia Europeia numa crise de dívida. Por isso defendo uma emissão comum de divida (Eurobonds) através do BCE, para proteger os juros de emissão dos Países que saírem mais fragilizados deste crise - uma vez que irão beneficiar da avaliação de menor risco de outros Países da moeda única. Ou a via dos Coronabonds, como já foram apelidados!
Os Estados Unidos hesitaram, mas reagiram. Não pela via dos incentivos às empresas, mas surpreendentemente dando dinheiro diretamente às pessoas, garantindo um rendimento básico neste período (“os helicópteros de cash”).
E aqui chegamos às políticas orçamentais dos estados. Com um objetivo único: Injetar liquidez no mercado de forma a chegar o mais eficaz e rápido possível às empresas e famílias. Com o primeiro objetivo de manter o emprego. A economia paralisou, não existem encomendas, logo as empresas vão perder as suas receitas. Por sua vez os custos permanecerão, por mais que as empresas consigam flexibilizar as estruturas e os custos fixos. A paragem das empresas induz num excesso de capacidade e requer a flexibilização dos seus recursos. É aqui que entra o estado, mantendo o emprego na fase transitória, evitando despedimentos. Os mecanismos são as linhas de credito, a moratória dos impostos, e o apoio através de layoffs – minimizando os danos às famílias e empresas. Outras medidas para enfrentar este sufoco , foi o decreto do governo em proibir os despejos. Ou medidas que pretendem aliviar as famílias do pagamento mensal de rendas para habilitação – para quem comprovar perda de rendimentos, como consequência do estado de emergência. Esta é a forma de restabelecer as necessidades imediatas de fundo de maneio. Ora, isto numa perspetiva temporária, ou seja, na expectativa da retoma da procura à posterior. A partir daqui o emprego será retomado pelo retomar da capacidade produtiva das empresas.
Nesta fase de paralisia económica o estado é, portanto, o socorrista. O único garante que o dinheiro vai chegar ao circuito económico e às pessoas. Os Bancos não vão conceder crédito! Porque não têm garantias de retorno, pela debilidade financeira das empresas neste período. Logo é o estado que pode evitar o colapso da economia. Mas para o estado financiar terá que ser financiado. Para isso vai ter que emitir dívida, que será comprada pelos bancos. Por sua vez os bancos vendem os títulos de divida do estado ao BCE. Assim se fecha o circuito do dinheiro!
Mas este vai ser o maior teste à União Europeia. A última crise não correu bem. Por isso as medidas têm que ser concertadas e não isoladas. Esta crise económica sem precedentes, não permite qualquer leviandade. As economias individualmente demorarão muito mais tempo a salvar-se. Sobretudo as que detêm uma divida publica superior à riqueza que criam. Qualquer política isolacionista pode levar á desintegração da União Europeia. Ou seja, a implosão do projeto político mais bem sucessivo da historia da humanidade.
Depois existem os modelos clássicos que têm que ser ajustados e extensíveis globalmente. Como por exemplo o “plano Marshall” e um “New Deal” . São formulas aplicadas em pós-guerra e na pós grande depressão de 1929. Ora, vamos provavelmente precisar dos dois em simultâneo. Ajustados, naturalmente, ao portfolio da economia atual. Sendo este um upgrade positivo, dado aos avanços tecnológicos e científicos. Esta seria a combinação otimista de fazer estes modelos extensíveis à escala global. Única via para revigorar a economia das empresas e das pessoas. A mobilidade global de hoje ajudaria à sua implementação. No entanto para a sua execução é primordial a eliminação de todas as barreiras comerciais. Um plano de investimentos muito agressivos e estímulos ao consumo. Esta globalidade de medidas é difícil dada as idiossincrasias dos diferentes países e culturas. Por isso é inevitável a cooperação das Nações.
Existem modelos que terão de ser reinventados. Isto porque pela primeira vez poderemos ter que fazer face a uma crise de choques negativos do lado da Oferta e do lado da Procura. A fórmula passa por estímulos simultâneos. Julgo que, numa primeira fase, do lado Oferta se a economia eclipsar por mais 3 meses. Porque vai ser preciso repor inventários. Stocks de produtos. A prioridade passa por estímulos à produção. Se esta fase for eficaz vai depois estimular a procura, uma vez que gerou emprego e atividade económica. Só assim se evita uma aterragem brusca. Reitero, pode não ser só uma questão de arrefecimento da economia. Pode simplesmente não haver nem oferta nem procura. Só vejo esta via, logo vai requerer também, receitas novas e criativas nos estímulos.
Numa perspetiva mais Micro ou Nacional , muitos problemas se vão colocar ao nosso País. Existem estudos que apontam para uma banda de queda do PIB entre 4% e 20%. É uma amplitude enorme de incerteza. Desejamos estar na banda inferior do intervalo.
Veja-se como tudo mudou em duas semanas: em 2019 o PIB cresceu 2,2% , e confirmou-se o primeiro superavit em democracia +0,2%. Positivo, muito positivo. Mas tudo foi engolido num par de semanas.
O turismo ajudou, o turismo não vai ajudar. A recessão vai levar a uma descida de rendimentos das pessoas e das empresas. Os spreads dos bancos vão subir. Apesar das taxas do BCE/ Euribor serem baixas, os bancos vão aumentar o premio de risco. Os spreads estarão ainda mais sob pressão se a inflação subir no futuro. Prevê-se uma redução significativa do valor das casas, depois do seu pico máximo em 2019.
As soluções possíveis e imperativas, passam por ajustar contratos à nova realidade. Melhor ajustar do que fechar. É importante reverter decisões anteriores como a redução de incentivos fiscais a reformados estrangeiros e vistos gold, por exemplo.
Estamos num período atípico. Estamos perante uma “desglobalização” forçada. Desta nova realidade temos que inverter muitas das estratégia convencionais. Assim, temos que atrair e ser competitivos no turismo, para atrair as elites que ainda mantiveram o poder de compra no pós crise.
Esta interrupção na globalização levará a oportunidades, pela maior dependência de produtos nacionais no mercado. Ora, esta pode ser uma oportunidade para as pequenas e médias empresas, que poderão chegar ao mercado de uma forma mais eficaz no pós crise sanitária. Logo requer-se uma melhor capacidade produtiva das empresas com maior exposição ao mercado nacional.
Este é talvez um passo para sair desta crise. É com novos hábitos que muitas vezes temos surpresas agradáveis. Se a globalização está interrompida, esta aposta no mercado local pode ser uma das boas surpresas. Ora, fará agora mais do que nunca sentido, o incentivo ao consumo de produtos tradicionais portugueses. Dar força aos veículos de promoção : mercados, feiras, exposições. Deixarmos-mos de invejas e apostar nos produtos de qualidade do “vizinho”. Juntarmo-nos aos nossos “concorrentes” para termos mais capacidade nos canais de distribuição e mais fácil chegar ao consumidor. Promover o chavão : “o que é Nacional é bom”. Isto aumentará a capacidade produtiva. Logo porá a economia a girar. Logo faz com que todos tenham mais fundo de maneio. Logo todos podem gastar. E se todos podem gastar estão a puxar pela economia.
Requer-se uma aposta no setor primário, até. Se o País está mais fechado devemos também valorizar a mobilidade no País e das pessoas. Repor os canais de distribuição competitivos. Criar pools nos diferentes sectores da economia que permitam que os produtos nacionais cheguem às pessoas com eficácia e a um preço competitivo. Repondo os mínimos do poder compra das famílias.
Existem outras oportunidades. Talvez seja agora a oportunidade da digitalização. Estamos na era da Eletrónica que muitas vezes subvalorizamos. Este poderá ser um salto qualitativo e único.
Esta não é uma crise estrutural (como em 2009) mas sim uma crise conjuntural. Uma crise estrutural assenta na falência da economia, pela via do estoiro das bolhas (subprime, bolsistas, superprodução, endividamento,..) – uma base que requer soluções a longo prazo.
Uma crise conjuntural, como esta, assenta numa base diferente. Um problema biológico que vai fazer um arrefecimento brusco da economia. Mas que pode ser portadora boa noticia: apesar do impacto brutal em 2020, pode induzir numa trajetória de retoma em 2021. Porque não assentou em nenhum problema estrutural da economia. Ao contrário! Estávamos num ciclo de expansão economia, e a economia em apreciável nível de performance. Reitero, este é um cenário otimista - e desde que a paragem não seja extensível até ao verão!
Vamos ter que nos reinventar!
Vamos ter que nos inspirar!
Isso está no nosso gene! Termos presente a determinação de Marquês de Pombal na resposta a tragedias, ou esta qualidade que temos de sermos capaz de passar o Cabo da Boa Esperança, e o Cabo das Tormentas!
E para uma massa critica que requer criatividade (agora mais que nunca), os Portugueses têm uma vantagem competitiva assinalável.
Uns criticarão sempre, outros construirão. Os primeiros contam estórias, os outros ficam na história!