Os Empreendedores e a Pandemia: uma parte da solução! - Por #Helena Saraiva

Autor : ana
Data : Jul 27, 2020

No âmbito das consequências que a pandemia trouxe ao nosso dia a dia encontram-se as fortes limitações à atividade económica e o consequente aparecimento de uma crise sem precedentes.

Inicialmente, muitos acharam que esta crise não seria muito difícil de ultrapassar, uma vez que não havia problemas estruturais na sua base, mas apenas que a conjuntura relacionada com a ocorrência da pandemia estaria a pressionar no sentido da contração da economia. Assim que a pandemia abrandasse, a crise seria ultrapassada, com maior ou menor rapidez, dependendo das circunstâncias relacionadas com a atuação das entidades governativas e da resposta do mundo empresarial.
No entanto, tem-se verificado que a pandemia não tem data de finalização e que as pessoas, antecipando isso mesmo, se encontram receosas do futuro, tendendo a ter comportamentos mais conservadores, quer por prudência, quer por necessidade.
Neste contexto, a confiança no futuro, na evolução dos mercados, na evolução das atividades que até agora eram geradoras de valor acrescentado, é um fator fundamental. Se a confiança desaparecer, entrar-se-á numa espiral recessiva.
Por outro lado, o modelo económico que se vinha seguindo de há muitos anos a esta parte levou as sociedades a um ponto muito próximo da rutura, quer em termos ambientais, quer em termos de desigualdades abissais entre países e regiões e até mesmo entre pessoas.
Seria a altura ideal, apesar de ser fruto de um cenário indesejável, para repensar e, mais importante, reconstruir, a atividade económica em termos menos desiguais. Menos desiguais e mais locais…
Se analisarmos bem, no início deste cenário, foi notória a escassez de diversos bens que se tornaram bens de primeira necessidade. Exemplo disso são os equipamentos de proteção individual utilizados na medicina, os ventiladores, as máscaras de proteção para a população e os desinfetantes. Todos estes produtos estavam praticamente indisponíveis numa primeira fase. A mesma situação se verificou praticamente na totalidade dos países, com pouquíssimas exceções.
Fundamentais na resposta a estas necessidades foram as respostas da sociedade civil que se desdobrou em iniciativas de diversos carizes para conseguir colmatar esta escassez existente no mercado. Muitas vezes sem qualquer motivação económica – a motivação era apenas ajudar a colmatar as falhas deixadas em aberto pela economia de mercado. Esta é uma forma de empreendedorismo – o empreendedorismo social – que procura respostas para os problemas de um conjunto mais ou menos alargado de pessoas, quando todos os outros atores falham – o que aconteceu nesta crise: os mercados falharam, as empresas tiveram de readaptar-se, os governos não estavam preparados.
Estes empreendedores tiveram de puxar pela criatividade para conseguir soluções inovadoras para o problema da escassez. E elas surgiram rapidamente: equipamentos que surgiram a partir dos materiais mais inusitados, pequenas e médias empresas que se reconverteram para produzir bens que passaram a ser de necessidade urgente e imediata, grupos de artesãos que se organizaram para produzir soluções aptas para as novas circunstâncias.
Tudo isto só foi possível porque estas estruturas já existiam (em realidade ou em potência), ao nível local. Ou seja, a capacidade que os territórios tiveram de dar resposta às atuais circunstâncias, teve a ver com a capacidade de atuação quer das pessoas que os ocupam, quer da existência de organismos e empresas que possam consubstanciar essas respostas.
Por isso são tão importantes as pequenas (e médias) iniciativas económicas de base local – que têm sempre, na sua génese, pelo menos, um empreendedor. As iniciativas locais agregam e mantêm pessoas nos territórios, mantendo-se mesmo em tempo de dificuldades. Ao contrário do que normalmente acontece com grandes grupos económicos, que, quando deixam de ter vantagem em ocupar um determinado local o abandonam numa lógica puramente mercantilista.
Sem empreendedores, integrados ou não em empresas ou noutras entidades, a pandemia teria sido e será, muito mais difícil de suportar e de ultrapassar.
Nesta linha têm atuado organizações de cariz global, tal como a Organização das Nações Unidas que, reconhecendo o importante papel das pequenas entidades, tem feito apelos e lançado campanhas no sentido de apoiar o papel que estas reconhecidamente têm desempenhado.
Também o World Economic Forum tem chamado a atenção para o importante papel dos empreendedores sociais na resolução desta crise e na perspetivação de uma economia para o futuro que tenha em conta como variável chave a questão ambiental.
É essencial que, com a crise que continua a perfilar-se perante todos nós – o mundo em geral – estes empreendedores continuem a ter vontade de contribuir e aportar soluções, ao nível local, nas suas regiões, pois é dessa forma que se contribui para uma solução global: agindo localmente…
Estou convicta de que nos próximos tempos (talvez nos próximos dois anos), muito será exigido ao fenómeno empreendedor. Ou seja, as entidades oficiais irão tentar reforçar, apoiar e incentivar vários tipos de soluções que serão impossíveis de implementar se não existirem umas “almas de fogo” que suportem esse sacrifício. Esta atitude é já visível nas intenções destas grandes entidades mencionadas (a ONU e o WEF, são apenas dois exemplos).
Haverá, pois, que incentivar, acarinhar e apoiar o desenvolvimento das iniciativas que têm surgido desde o início da crise no sentido de aportar soluções para as comunidades. Nestas soluções incluem-se não só os exemplos mencionados acima, mas também o de todas as entidades e profissionais que têm resistido a esta crise e mantido empresas a funcionar e a sobreviver em situações muito adversas, assim como aqueles que, apesar de tudo, reconverteram as suas atividades para continuar a desempenhar as suas funções.
Mas importante, importante mesmo, é a manutenção da atividade, do empenho e do entusiamo pela possibilidade de criar um mundo melhor, menos desigual e mais em comunhão com o espaço natural e ambiental, por parte da “alma de fogo” que habita em cada empreendedor. Isso será indispensável e essencial, até mesmo para a manutenção da confiança, que é por sua vez a base do desenvolvimento das sociedades.

Helena Saraiva