E se hoje fosse empresário? - Por #António Alçada
Acedendo a um amável convite do Quiosque do Empresário, venho com muito gosto apresentar um conjunto de ideias caso fosse responsável de uma grande empresa.
Pessoalmente julgo que as pequenas e médias empresas que tenham apostado no negócio de proximidade, ou em produtos de qualidade de excelência, não terão grandes dificuldades de escoar a sua produção, salvo se estiverem muito dependentes da exportação. Os especialistas em politica internacional, temem um fecho gradual das fronteiras mas, saliento mas, ainda há muita incerteza dependente das futuras eleições dos nossos principais parceiros e do futuro da própria União Europeia.
Daí que haja quem já esteja a apostar no mercado interno, nomeadamente em soluções de adaptação das empresas à nova realidade social, tendo em conta a segurança sanitária ou mesmo na construção, o desenvolvimento de soluções de espaço para o teletrabalho.
Mesmo que se resolva esta pandemia, ou com vacina ou imunidade de grupo, nem que seja, fica-se com a sensação de que este risco não deve ser minorado, podendo surgir novas epidemias, ou pandemias, que requerem uma profunda reflexão de novos hábitos sociais.
Julgo que a generalidade das gentes da Beira entenderam que as medidas implementadas foram demasiadamente prudentes, tendo em conta que esta região era usada pelos nossos antepassados para curar, ou remediar, doenças respiratórias agudas ou crónicas (quem não se recorda dos Sanatórios) e são neste caso, felizmente, territórios de baixa densidade populacional minimizando riscos de contágio.
Assim sendo, o designado Interior português oferece boas condições para a redução de custos de empresas, principalmente se for feita uma aposta no teletrabalho, responsabilidades por cumprimento de objetivos e acessoriamente investimentos em sistemas de comunicação ou telegestão redundantes. A infraestrutura existe, funciona e provavelmente nunca foi aproveitada ao máximo.
A aposta no teletrabalho trás, na minha opinião, duas medidas relevantes de custo/benefício tanto para as empresas como para os trabalhadores. O património não necessita de ser tão caro (redução de encargos com os edifícios) e os trabalhadores reduzem deslocações.
O factor tempo deixa de ser um problema, como nas grandes cidades, podendo igualmente haver um contributo para a redução das emissões de gases que promovem o efeito de estufa, em face da redução do tráfego. Por outro lado, o trabalhador estando mais tempo em casa minimiza riscos de contágio de doenças patogénicas (inclusivamente a gripe), e, provavelmente as baixas médicas possam ser igualmente reduzidas, tal como o absentismo.
Obviamente que estamos num cenário teórico, pese embora no Norte da Europa, desde o inicio do milénio, que as grandes empresas apostaram no teletrabalho e na deslocalização das sedes e unidades de produção para territórios menos povoados. Portanto a ideia até nem é genuína!
Claro que esta minha opinião, pressupõe que os direitos laborais se mantenham como o subsidio de refeição, seguros obrigatórios (embora as coberturas tenham de ser repensadas), bem como garantir a segurança e saúde do local de trabalho, mesmo sendo num sitio privado. Porém no que toca a viaturas e deslocações, as empresas poderiam arrecadar poupanças e, como referido, «ajudar» o ambiente com menos poluição gasosa.
Mesmo empresas de serviços, ou «utilities», têm essa opção para algumas áreas ligadas aos serviços de apoio e, julgo, nalguns sectores operacionais seja possível remotamente controlar o desenvolvimento das tarefas. Há que efetuar apenas investimentos nas comunicações.
Daí que tenho esperança num otimismo, principalmente para este Interior, que haja vontade dos empresários e dos próprios trabalhadores, ponderarem novas estratégias que já estão em uso noutros países, e usufruírem de uma qualidade de vida que hoje os grandes centros não oferecem. Salienta-se a importância na qualidade dos serviços de saúde e de ensino, para que, de facto, esta opção seja concorrencial.
No que toca ao ambiente, concretamente, infelizmente esta crise tem sido aproveitada pelos interesses económicos para se fazer desacreditar nas alterações climáticas. Pelo que se lê, na comunicação social, o impacte da paragem industrial no mundo provocou mais danos económicos e sociais do que propriamente redução de CO 2 na atmosfera. Pessoalmente, e volto a salientar a palavra pessoalmente, acho que se trata de uma campanha para desacreditar os Acordos de Paris e a Agenda 2030.
Mesmo analistas sensatos afirmam que a aposta no Ambiente é fundamentalmente regulada pela União Europeia. Os restantes países, mesmo os Estados Unidos, têm aproveitado mais o sentido político do que propriamente as preocupações europeias, mas acredito que as próximas eleições americanas podem, ou não, salvar o que a maioria pensa e acredita.
Mesmo em África, onde resido atualmente, as regiões subtropicais estão com uma variação inter-anual da precipitação nunca vista, provocando uma proliferação de ravinas pela erosão hídrica condicionando a estabilidade de infraestruturas e zonas urbanas.
Termino com a definição de mudança climática*, que é um fenómeno que ocorre quando os padrões climáticos sofrem mudanças no espaço (por exemplo, chuvas de monção ocorrerem em latitudes mais a Sul) e também no tempo (por exemplo., os meses de inverno serem mais quentes).
António José Alçada, Mestre em Hidráulica e Recursos Hídricos.
*Agência Europeia do Ambiente, 2012