Dar a volta ao Covid 19 - Por #Silvia Massano
A disrupção provocada pelo COVID-19 em setores de atividade como sejam do turismo, da indústria têxtil e do pequeno comércio em geral, deverá ter repercuções nos negócios que começam logo na cadeia de aprovisionamento, passando depois pelos hábitos dos consumidores propriamente ditos.
Com o consumo a retrair-se em praticamente todas as frentes, os agentes económicos começam a perceber que é impossível regressar aos anteriores padrões de oferta, pois não vão ter o mesmo retorno que antes era conhecido.
O que fazer então? Fechar os negócios? Despedir pessoas? Pedir apoios ao Estado? Aos bancos? Qual o papel que cada um dos agentes económicos deve ter no combate a uma crise bem pior do que a pandemia que nos tomou de assalto no início de 2020?
Bem, isso será porventura o maior desafio de todos os tempos para quem ousa não virar as costas à maior crise (económica) da nossa história mais recente.
Olhando para o nosso ecossistema, percebemos que os hábitos das pessoas mudaram. Mudaram, alguns não por vontade própria mas por imposição ou por medo! A insegurança que tomou conta das pessoas, não fica indiferente ao desempenho da economia. Se a lógica do teletrabalho é um dos caminhos a ser seguido, há por conseguinte, negócios como sejam da restauração, que são penalizados ou aquela compra de ocasião que se aproveitava para fazer na hora de almoço, já não se faz! Mas há outros, que podem por esta via eclodir!
Bem, o que vejo essencialmente é um foco desmesurado no que deixamos de fazer por força da pandemia, no que perdemos, em vez que nos concentrarmos no que fazemos de forma diferente e no que podemos ainda melhorar.
É verdade que a falta de liquidez da economia é porventura o nosso maior problema para fazer face às necessidades de tesouraria das nossas empresas. Se as pessoas não consomem, a economia não circula. Aqui o papel do estado é fulcral, não como agente de “dar dinheiro sem critério” mas como agente apaziguador das desigualdades sociais que terão tendência a agudizarem-se nos próximos tempos.
Não nos podemos conformar com medidas de retoma das empresas se a economia está descrente. São medidas que ventilam as empresas. Não as vai salvar do inevitável! É isso que queremos?
Vislumbro que o conceito do típico tradicional levará ainda o seu tempo a ser “substituído” por novas formas de ver e de encarar o futuro (das gerações). A “nova economia”, despoletada pela crise pandémica, deverá obrigar a que as nossas empresas olhem de uma vez por todas para a inovação e resiliência, não com um sentido literário, mas com o seu verdadeiro sentido prático. Ser inovador não é mudarmos a cores das paredes, mas derrubar essas paredes para dar lugar a novas paisagens, novas visões, novas oportunidades! Ser inovador não é abandonar conceitos passados, mas ter aprendido com eles para fazer algo que melhore alguma coisa na sociedade. De nada vale pedirmos ajuda se mantivermos o foco nas exportações (sim, são importantes), sem olharmos para quem e para o que está ao nosso lado. A nossa envolvência é tudo com o que no aqui e agora podemos contar! Para o bem e para o mal!
As nossas empresas modeladas no sentido da obtenção do lucro, facilitam a receita fiscal dos estados, mas não as obriga a terem planos de contingência para fazerem face a uma crise como a que assistimos. E algumas vão fechar portas, por terem deixado de ser rentáveis e porque os planos de ajuda do estado não servem para garantir a sua sustentabilidade. Como é que se pagam ordenados e custos fixos, se as empresas não faturam?
Não basta serem as melhores empresas nas respetivas áreas de negócio! É preciso que o que vendem seja útil e oportuno não só para um nicho de mercado mas que consigam fazer chegar a informação em tempo útil.
Não basta que o governo anuncie medidas de apoio às empresas se elas tardam em chegar.
É preciso sermos sérios quando estamos a falar de pessoas e de famílias que existem por de trás de uma qualquer organização empresarial. Quando uma empresa fecha portas não é só essa empresa que fecha! É um conjunto de pessoas que vão deixar de consumir por não terem dinheiro ao fim do mês. É um aluno que não vai ter condições para estudar, é uma criança que não tem acesso a cuidados básicos, é uma família desesperada por não conseguir dar o que é considerado essencial ao seu filho! E quando isso acontece não é só a empresa que falhou. Toda uma sociedade falhou!
Os nossos agentes começam agora a aprender a olhar para as questões da solidariedade e cooperação e das alterações climáticas e da sustentabilidade do negócio (não falo apenas do ponto de vista económico), como forma de se manterem firmes perante uma adversidade.
Não basta, pois, termos acesso a uma informação considerada privilegiada! O que realmente importa é o que fazemos com ela e em que medida ela pode ser importante para o meio onde estão inseridos. Como é que podemos transformar uma informação privilegiada num meio que sustente famílias e gerações vindouras.
Não urge ser perfeito! É preciso tentar e não desistir, mesmo que pelo meio, se vá falhando seja por medo ou receio, mas nunca parando nem deixando que nos parem! Há uma geração à espreita e que nos vai pedir contas, do que fizemos, e essencialmente do que deixamos por fazer por medo ou até por vergonha! Afinal medo de quê? E vergonha de quem?
Silvia Massano