A crise chamava por Centeno, o País mais ainda. - Por #Joaquim Marques
A história não se escreve a preto e branco. Escreve-se com base em factos, com rigor e com serenidade!
A crise económica, a seguir à pandémica, coloca-nos num panorama adverso, com uma forte contração no poder de compra, com riscos de desigualdades e clivagens políticas e dessegregação social.
E neste contexto que urge chamarmos os melhores.
Centeno é um deles!
Faz-me muita confusão o País, pela via das suas elites, ter descartado Centeno! Foi um facto muito grave. É consequente! A saída de Mario Centeno, nesta altura, é catastrófica para o país.
O que aconteceu?
Dois factos colocaram Centeno na porta de saída do Governo!
Tudo começou com a conhecida polémica em torno do Novo Banco. Estes são os factos.
O Primeiro Ministro assegurou no parlamento que novas transferências para o Novo Banco só depois de concluída uma auditoria. Acontece que nessa altura já o estado tinha injetado 850 milhões no banco. E fê-lo no último dia contratual. Logo Antonio Costa foi acusado pela oposição de ter mentido no Parlamento, uma vez que o dinheiro já tinha sido transferido. Desde logo, ficou a ideia de que Centeno se esqueceu de avisar o Primeiro Ministro!
Mas de quem foi o erro afinal?
O dinheiro foi transferido para o fundo de resolução a título de empréstimo. Estava no orçamento de estado. Foi aprovado em conselho de ministros. Foi aprovado na Assembleia da República. E se não fosse suficiente, foi negociado e acordado com Banco Central Europeu. O BCE precaveu qualquer crise de um qualquer banco na zona Euro. E o Novo Banco estava á cabeça. Qualquer colapso seria um golpe duro na credibilidade do sistema monetário europeu. Geraria uma onda de desconfiança internacional, com um revés nos juros da divida soberana.
Por tudo isso, é verdade que este acordo único foi generoso, uma vez que induz na “obrigatoriedade” de injetar capital para cobrir prejuízos futuros (indexados ás imparidades do BES), protegendo os rácios de capital do banco.
Sejamos justos! Se tudo estava acordado, então se alguém errou não foi Centeno. É errado honrar compromissos de estado? É errado defender o bom nome da instituição que representamos?
Tudo pelos vistos foi resolvido com o politicamente correto: «uma falha de comunicação»
Mas o mais grave desta trapalhada foi, desde logo, a iminência da saída de cena de Mário Centeno. E o mais surpreendente, é que esta eventual encenação parecia advir de um complô entre o Primeiro Ministro e o Presidente da República. Os dois trocaram galhardetes. Numa visita á Autoeuropa o PM garantiu apoio á recandidatura do PR. Este retribuiu o apoio ao PM, explicando por ele a relevância da auditoria ao Novo Banco. Ora, a leitura era que ambos estavam a empurrar Centeno para a porta de saída. Eu, reconheço que fiquei perplexo. E mais ainda quando até o líder da oposição se juntou. Este pediu a cabeça de Centeno (!) por quebra de confiança ao PM(!)
Eu pensava com os meus botões: como é possível ?! Isto não está a acontecer. Muito menos em plena crise e incerteza.
Os três (PM, PR , líder de oposição) tiveram um desvario incompreensível. Fatal! Mais surpreendente, até, porque os três têm estado irrepreensíveis na resposta a esta crise. Têm-na gerido com mestria. O reconhecimento é generalizado, e amplamente notório além-fronteiras. O governo soube lidar com a crise de saúde publica. O PR soube complementar, transmitiu confiança e iluminou o ruído. Houve competência nos ministérios da Saúde, e no Ministério do trabalho e da ação social. Mas julgo, também, que o papel do líder da oposição não foi menor. Foi decisivo no apoio ao estado de emergência, e o apelo eficaz ao confinamento. É normal isso provir de quem governa, mas não o é de quem está na oposição. Logo, o sentido de responsabilidade e patriotismo de Rui Rio foi decisivo para a sensibilização de todos no ataque uníssimo á crise.
Se todos estiveram bem na gestão da crise, todos foram irresponsáveis no dossier Centeno.
Depois, ocorreu um segundo facto, a gota que fez transbordar a caixa da paciência de Centeno e de todos nós. Já não bastava o mal-estar evidente! Tudo se agravou nos últimos dias pelo anúncio, do Primeiro Ministro, do CEO da Partex para elaborar e liderar o plano de recuperação económica para os próximos dez anos. Julgo até ser um bom sinal o PM ter capacidade de chamar os competentes da sociedade civil para o ataque á crise. Sim, é muito positivo, mas jamais o poderia fazer á margem do ministro das finanças. É uma quebra de lealdade! Mas principalmente uma irresponsabilidade profissional. Como se poderão gerir as “bazucas” de dinheiro que estão a chegar, á margem de quem tem que prestar contas?!
É imperdoável este cenário de rutura, que para mal de todos se confirmou.
É um erro inadmissível! Histórico!
Vamos a Centeno.
Centeno é o ministro mais competente do executivo.
Centeno é o ministro das contas certas.
Centeno é o obreiro do primeiro superavit da democracia Portuguesa
Tem uma imagem internacional de elevada competência.
Tirou o País do lixo financeiro das agências de notação financeiras
Foi com Centeno que a confiança voltou.
Foi com Centeno que a nossa autoestima recuperou e foi resgatada.
Foi com Centeno, que um Português liderou os ministros das finanças de todos os estados membros (o Eurogrupo)
Se todos estamos gratos a Centeno, porque prescindimos agora da sua competência? Logo agora, que vamos enfrentar a crise económica das nossas vidas! Logo agora, reitero!!
O ministro das Finanças é muitas vezes um homem só e isolado.
Porquê?
Porque é o garante das contas publicas.
Porque é o “amigo” fiel e aliado principal do Contribuinte.
Porque é o mais impopular em alturas de crise. Porque é o que tem que dizer “não” aos colegas. Todos vão lhe pedir mais dinheiro.
E não só os colegas, inevitavelmente vai ter todos os setores de atividade económica de “mão estendida”, sem poder comprometer as contas publicas.
Entendo assim que o Ministro das Finanças deve ter o apoio incondicional do PM e do PR . Um apoio firme, e não de desautorização. Terá que ter a autoridade suficiente de resistir a todas as exigências. A pressão vai ser estratosférica. Vão-se discutir questões de sobrevivência económica. De opções difíceis. Repito, o interesse maior vai ser a defesa do bem comum. Do contribuinte, que nestas negociações parecerá invisível, porque ausente. O Ministro das finanças é o garante fiel do contribuinte.
Mas há mais.
Como está a ser interpretada, hoje, uma saída de Centeno?
Com uma enorme especulação. O nosso país vai ficar sob pressão internacional, com a inevitabilidade da subida dos juros da dívida. Este é um golpe duríssimo numa crise que nos está verdadeiramente a correr bem. Tudo se inverteu. Passou agora a ficar negativamente exposta aos radares internacionais. Numa altura onde a confiança é primordial, estamos a ser brindados com uma desconfiança confrangedora. E se tínhamos Centeno, o nosso dever era de gratidão.
O pior da crise sanitária, já passou, mas o sol ainda não brilhou. O povo português deu provas de resiliência, com dor e sem queixume. Antecipou a tragedia sem pânico, e depois seguiu as orientações das autoridades de saúde e do governo. Merece agora os melhores e os mais talentosos para gerirem a crise económica. Não só requer como exige os melhores.
Mais do que nunca precisamos de um Ronaldo das finanças.
Tivemo-lo. E levou a equipa às costas com pleno sucesso.
Estava, agora, á porta a fase final do campeonato do mundo das nossas vidas.
E nós despedimos o melhor jogador de todas as equipas.
Pela globalidade de Ronaldo e pelo prestigio de enorme exemplo de profissionalidade com que conota o País, um dia escrevi que todos choraremos a reforma de Ronaldo. Hoje choramos a saída do Ronaldo das finanças. E aqui acresce um “detalhe”, … a carteira de todos.
(numa altura em que se vandalizam estatuas, encomendem a de Centeno)
Joaquim Marques