Cenários para o futuro – quando, como e onde? - Por #Helena Saraiva
É com muito gosto que inicio esta colaboração com o Quiosque do Empresário, desafiada pela minha amiga Sílvia Massano e acompanhada pelo amigo de longa data, Joaquim Marques.
Estou de facto em excelente e dinâmica companhia, com pessoas que olham para o futuro sempre com a atitude de ver o copo meio cheio. E é, com certeza, disso que vamos necessitar nos próximos tempos.
Tempos que se preveem de estrema incerteza, de uma incerteza total e absoluta: não sabemos (ninguém sabe), quando esta situação irá inverter, ou, pelo contrário, agravar-se. Todas as hipóteses são admissíveis…
Não se sabe, por outro lado, como resolver as inúmeras questões relacionadas com a paragem forçada que a economia sofreu e que provocou consequências impensáveis: veja-se por exemplo o que aconteceu com o preço de algumas commodities, entre elas o petróleo…
Neste sentido, não posso deixar de parafrasear o Joaquim Marques, quando referia que vamos ter de nos reinventar e ainda quando se questionava como seria o mundo depois. De facto, parece que estamos a viver numa espécie de “mundo ao contrário”, tomando como referência o mundo que conhecemos até há cerca de pouco mais de dois meses.
Se não, quem teria pensado ainda durante o recente, mas já tão longínquo mês de Janeiro de 2020, que todo o mundo pararia, praticamente em simultâneo, por causa de um vírus que, aparentemente, é semelhante a um vírus da gripe, mas que pode provocar consequências avassaladoras nos organismos mais frágeis? Que toda a sociedade se uniria para proteger os mais frágeis, mesmo que não se saiba exatamente quem estes possam ser, apesar de haver identificação de grupos “de risco”? Que as cidades ficariam desertas e seriam, de repente, invadidas por outras espécies de fauna que não a humana? Que os níveis de dano provocados pelo estilo de vida da humanidade, poderiam, afinal, ser revertidos e até em tempo relativamente curto?
Claro que para tudo isto acontecer foi necessária uma ameaça comum e de cariz mais importante do que a “simples” economia… Inédito!
Para já, não sabemos o quando! Quando parará, se parará…
Depois temos de considerar o como: com a expansão e o crescimento da economia numa fase pós vírus, em que se prevê que possam surgir dois cenários extremos (e como é óbvio podem também emergir todos os que deverão ficar entre estes dois):
- o primeiro (e que, infelizmente, me parece bastante provável), é o de retoma desenfreada dos anteriores hábitos de consumo com a finalidade de expandir a economia; temo que as notícias que têm vindo recentemente ao conhecimento de todos, com a expansão do consumismo puro e duro após uma fase de “abrandamento forçado” a que as sociedades que já ultrapassaram a fase mais gravosa da pandemia, parecem ter cedido, seja expressiva do que pode vir a acontecer: o rebound do “tratamento” pode ser pior que a cura (…), com graves consequências na vida do planeta;
- o segundo (mais desejável, mas talvez menos provável), o de redesenho de toda a base da economia mundial, numa perspetiva de maior respeito pelos recursos e condições naturais, em que a atividade económica se pautasse precisamente pela proteção aos mais desprotegidos, quer esses fossem determinados grupos humanos, quer fossem determinadas espécies de fauna e flora, quer fossem determinadas condições sociais e naturais mais respeitadoras dos valores a preservar e economicamente menos viáveis, mas por outro lado mais sustentáveis.
Muito haverá a decidir e muita coragem será necessária para enveredar por um caminho que não traga uma recuperação célere e imediata…
As soluções centradas nos efeitos económicos a curto prazo, serão, com certeza, as de piores consequências ambientais. Por outro lado, como não acorrer no auxílio a tantos grupos de pessoas que se encontram desprotegidas, precisamente com medidas de cariz económico tradicional?
Pois é: não temos a certeza do como…
O certo é que os momentos de ocorrência do quando e do como também terão extrema relevância na possibilidade de implementação destes cenários agora considerados.
Quanto à única coisa da qual podemos ter a certeza é que o quando e o como têm de ocorrer aqui… Aqui, no mundo global em que nos encontramos.
Num mundo, em que, apesar de ter paralisado em simultâneo – num modelo de globalização nunca antes visto – não deixa de haver grandes e graves assimetrias no combate ao inimigo comum.
Numa circunstancia global que aparenta ser de um “mundo ao contrário” (uma vez mais…), ainda assim sabemos o onde: as mudanças e a reinvenção têm de ocorrer aqui, neste mundo que habitamos.
No planeta terra, onde a ação do homem terá de reiniciar-se de uma forma mais responsável, provavelmente com recurso a muitas iniciativas em rede. Iniciativas provenientes de todos os setores, mas essencialmente pela sociedade civil e assumindo ainda assim caraterísticas de verdadeira globalização. Mas este será um tema para outra rubrica…
Helena Saraiva