Vivemos num mundo em que os rótulos e os padrões standards são uma constante. Cada vez mais, tudo pode ser alvo de críticas caso não se enquadre nos padrões previamente estabelecidos, como é o caso de produtos, bens ou pessoas. Algo que não foge a esta estandardização são os alimentos, nomeadamente as frutas e vegetais. Há o hábito de, quando se chega a um supermercado e se olha para a zona das frutas e legumes, estar tudo muito organizado e “bonito”, dando uma sensação de que aqueles são os melhores alimentos que alguém irá consumir.  

Muitos são os alimentos que acabam no lixo devido ao facto de não terem um determinado peso ou uma determinada forma que se encaixe nos padrões de beleza alimentícia. Podem até ser mais saborosos do que aqueles que se encontram nos supermercados, mas devido às suas características físicas inerentes são automaticamente descartados e os consumidores nem chegam a meter-lhes a vista em cima. O que acaba por acontecer nestes casos é que, para além do desperdício alimentar aumentar, os produtores desses alimentos considerados feios perdem parte da sua fonte de rendimento.

De modo a combater o desperdício alimentar e apoiar os produtores e agricultores locais e regionais a tirar o maior proveito possível das suas colheitas, surgiram projetos e iniciativas que pretendem elaborar cabazes com estes produtos considerados feios, que não têm a oportunidade de ir para a montra de um supermercado, a encontrarem uma nova casa e uma nova finalidade – alimentar famílias.

PROVE – Promover e Vender

Um destes projetos é o PROVE – Promover e Vender, que tem como principal objetivo e função ajudar os pequenos produtores agrícolas e consumidores a criarem uma maior relação de proximidade entre eles, fazendo com que estes produtores escoem mais facilmente as suas colheitas. O PROVE, através do seu trabalho, acaba por potenciar e desenvolver uma “economia de proximidade mais solidária e equilibrada, que estimula o empreendedorismo em meio rural e a autonomia dos produtores agrícolas”, tal como descrito no site do projeto. Esta iniciativa está agora presente em vários locais do país, de norte a sul, através de diversas parcerias que foram sendo estabelecidas, fazendo entregas ao domicílio nos concelhos de São João da Madeira, Vale de Cambra e Oliveira de Azeméis.

The Equal Food

The Equal Food é outra das iniciativas no combate ao desperdício alimentar. Em 2019, nasce em Lisboa este projeto, orientado por uma forte vontade de acabar com os padrões de beleza no mundo alimentar, mostrando que todos as frutas e vegetais são dignos de serem utilizados, contribuindo assim para “um mundo onde todos os alimentos são aproveitados e nada vai parar ao lixo”. Atualmente, a The Equal Food faz entregas em Lisboa e arredores, mas trabalha constantemente no sentido de se expandir e fazer entregas dos seus cabazes em várias cidades portuguesas (e não só). 

Fruta Feia

Outro projeto ligado ao combate ao desperdício alimentar é a Fruta Feia. Com o slogan “Gente bonita come fruta feia”, esta iniciativa tem como grande objetivo levar até aos consumidores a parte da produção fruto-hortícola que não tem a cor ou a forma ideal, de modo a combater não só o desperdício alimentar como todos os recursos gastos na produção destes alimentos. Com 12 pontos de entrega, distribuídos pelas zonas de Lisboa e do Porto, com mais de 200 agricultores espalhados por todo o país e uma vasta rede de consumidores, a Fruta Feia tem evitado o desperdício de dezenas de toneladas de alimentos.  Caso queira aderir a esta cooperativa, basta inscrever-se no site da Fruta Feia e esperar que seja contactado pela mesma, de modo a poder começar a recolher a sua cesta com frutas e hortícolas.

Os padrões de beleza, seja em que área forem, são apenas isso – padrões. Como em tudo na vida, existem exceções à regra, e essas exceções não têm de ser negativas. Muito pelo contrário – muitas são as vezes em que fugir e romper com os padrões é algo de valor. Os alimentos são um excelente exemplo disso mesmo – não têm de ser todos iguais para serem igualmente saborosos e de qualidade. Assim sendo, das próximas vezes que for necessário abastecermo-nos de frutas e vegetais para a nossa casa, procuremos alternativas aos padrões que definem o que é ou não um alimento bonito. Porque, na verdade, não só contribuímos para um mundo melhor e mais sustentável, como também escolhemos produtos com características únicas – produtos sexys!